Quantas pessoas sabem Esperanto no Mundo?

Um dos enigmas da Humanidade é o real número de esperantistas no mundo. É estranho que tantas pessoas se interessem em saber isso, mas não se preocupem em saber quantas pessoas sabem latim, hebreu, sânscrito ou qualquer outro idioma. Mas parece que o simples fato do Esperanto ser uma língua artificial cria essa curiosidade sobre o número de falantes.

Outra coisa que atrapalha definir o número exato é que ninguém decide se devemos incluir quem aprendeu os rudimentos do Esperanto ou só aqueles que são proficientes. Na minha opinião, se formos exigir proficiência, nem 10% da população brasileira fala o português, mas contamos todos como falantes da língua…

Os números mais pródigos falam em 2 milhões de pessoas no mundo todo. Isso é menos que a população de Campinas. Eu sempre achei esse número muito estranho, pois não explicaria a existência de editoras dedicadas a livros em Esperanto; eventos; sites; e todo o universo esperantista que só cresce.

A coisa ficou pior quando um jovem estatístico, se não me engano polonês, após se tornar esperantista, ter decidido aplicar um cálculo estatístico complexo, baseado em número de pessoas em eventos e sociedades, para chegar à conclusão de quantos esperantistas existiriam nos diversos países. O resultado foi muito abaixo dos tais 2 milhões, o que foi decepcionante. Mas o raciocínio dele já estava errado desde o início. Basear o número de esperantistas em números de participantes de congressos e sociedades é querer levantar número de militância. Eu mesmo conheço uma senhora que fala Esperanto, já tendo viajado a diversos países estrangeiros só falando essa língua, e que não vai em congressos ou é membro de nenhuma sociedade.

Pois bem, após grande expectativa, o aplicativo Duolingo lançou sua versão de curso de Esperanto para falantes do inglês (ou para quem quer aprender Esperanto e sabe o suficiente de inglês para estudar por essa língua). E sabe quantos alunos já existe nesse aplicativo só estudando Esperanto em inglês e outros idiomas? Um milhão de pessoas!

Ora, não dá para acreditar que exista um milhão de pessoas interessadas num idioma falado por 200 mil pessoas, nem mesmo por 2 milhões. Esse número tem que ser maior para a proporção ser compreensível. Ainda mais se imaginarmos que 800 mil dessas pessoas estão estudando em inglês, ou seja, estamos falando somente de pessoas que sabem o suficiente de inglês para estudar outro idioma. A versão em português ainda está em implantação.

Isso derruba totalmente as críticas e até ironias em relação ao Esperanto. “Língua só falada por espíritas”, “língua que não é levada a sério por nenhum linguista”, “menos falada que os idiomas criados por Tolkien para a saga O Senhor dos Anéis”, etc.

Mas qual a utilidade prática de se aprender Esperanto? Isso será assunto de outro texto posterior.

Por Maurício Menezes Vilela

Originala teksto ĉe HR Idiomas

O Esperanto é uma realidade, não uma metáfora

A palavra “esperanto” é frequentemente utilizada num sentido metafórico, para indicar desprestigiadamente como sendo simplesmente uma “língua artificial” que não deve ser levada a sério, mas esperanto é uma língua viva. Veremos um pouco do que realmente significa o esperanto e qual sua importância para a preservação do patrimônio linguístico de todas as línguas e culturas.

Se os críticos se permitissem olhar com atenção às várias manifestações ligadas ao esperanto, poderiam facilmente encontrar até mesmo em longínquas localidades, pessoas reunidas para estudar e aprofundar seus conhecimentos nesta língua. Congressos e reuniões são frequentes em todas as partes do planeta.

Holandeses, alemães, italianos, romenos, japoneses, brasileiros, não importa a nacionalidade, em todos os lugares podemos encontrar pessoas dispostas a discutir a língua, as ideias, a cultura e difundir o esperanto. Cursos regulares e intensivos são encontrados em todos os continentes.

Se de fato os cursos básicos são concentrados nos aspectos linguísticos, os intermediários e avançados estendem-se também pelos aspectos culturais e filosóficos da cultura humana.

Em particular, alguns cursos avançados possuem como tema a relação entre a literatura, a ficção científica e o esperanto – partindo de Júlio Verne, que nos últimos anos da sua vida foi presidente do grupo esperantista de Amiens.

Movimentos artísticos como a produção do filme Incubus (1965), que foi um filme feito inteiramente em esperanto servem como mais uma prova da importância cultural desta língua. O motivo da escolha era artístico, para criar uma atmosfera particular e surreal no filme, e após o lançamento o cineasta Stevens proibiu que fosse dublado em outras línguas.

Poderíamos destacar outras dezenas de manifestações e histórias, literaturas e produções artísticas onde o esperanto fez um papel fundamental no enredo.

A comunidade esperantista

O Esperanto hoje em dia é muito mais que um projeto linguístico iniciado por Ludwik Lejzer Zamenhof (Lázaro Luiz Zamenhof) em 1887. Encontros semanais, mensais e regulares são apenas um exemplo do que acontece pelo mundo para difundir o esperanto, o Congresso Universal de Esperanto atrai várias centenas de pessoas, se não milhares, todos os anos, desde 1905.

Depois de um grande entusiasmo inicial pela rápida aceitação da “Lingvo Internacia” como língua internacional da diplomacia, ciência e comércio, o movimento foi interrompido bruscamente com o advento da Segunda Guerra Mundial e o passou por uma série de experiências, incluindo a perseguição explícita dos regimes esquerdistas totalitários de Hitler e Stalin, que a consideravam como uma “língua perigosa”, como definiu bem o historiador Ulrich Lins em seu livro.

Na realidade, para termos uma ideia da força do esperanto, basta procurar no Google e você encontrará centenas de sites com informações sobre a língua e cultura esperantista.

No Brasil, a principal referência é a Liga Brasileira de Esperanto, uma organização não-governamental sem fins lucrativos, fundada em 21 de julho de 1907 e reconhecida como de utilidade pública em 21 de outubro de 1921. Ela coordena o Movimento Esperantista no Brasil e apoia grupos locais espalhados por todo a país.

No entanto, para alguns críticos de plantão, estas informações não são suficientes. Infelizmente ainda há pessoas que se referem ao esperanto de forma inadequada e que menosprezam todo o movimento, incluindo estudiosos, políticos e profissionais da mídia, que por estranhos interesses ou falta de conhecimento, ainda desvalorizam sua importância.

Movimento Esperantista e Direitos Linguísticos

O movimento esperantista nos últimos vinte anos demonstrou uma consideração cuidadosa e consciente dos direitos linguísticos como elemento fundamental da democracia, em particular em relação às línguas minoritárias, como se pode ler no Manifesto de Praga.

É interessante notar como as associações nacionais esperantistas não coincidem com as fronteiras políticas estabelecidas, existe uma associação esperantista catalã, uma associação escocesa, outra espanhola e assim por diante.

Através do esperanto, as pessoas se reúnem em um terreno neutro, que não pertence a nenhum grupo étnico ou nacional em particular, podem discutir questões delicadas e que não seriam facilmente abordadas se as línguas utilizadas fossem outras.

Por exemplo, há esperantistas espanhóis e catalães compartilhando suas opiniões e respeitando seus pontos de vista, falando em esperanto e procurando um futuro comum para a Catalunha e Espanha. Eles não teriam a mesma condição de diálogo se estivem falando em espanhol ou catalão (muito menos em inglês).

Ao mesmo tempo, esperantistas de todo mundo acessam notícias em primeira-mão sobre variados assuntos, não filtrados pela mídia internacional. Este é apenas um exemplo concreto da importante neutralidade que o esperanto proporciona. O importante é destacar que o esperanto é utilizado na prática, é uma realidade, por isso não merece ser tratado como uma simples “língua-artificial” – pois não é.

Reafirmamos – o esperanto não se tornará a língua internacional usada por todos em todo o mundo, e nem é esse o objetivo, devemos ressaltar o fato de o esperanto ter sobrevivido às tragédias do século XX e continuar a trilhar o seu próprio caminho, com seus próprios valores, especialmente para aqueles que se preocupam com a proteção do patrimônio linguístico mundial.

Traduzido e adaptado por HR idiomas
Por Federico Gobbo em “L’esperanto è una realtà, non una metafora” (em italiano)